sexta-feira, 16 de julho de 2010

Uma imagem vale mais que mil palavras


Por Ana Carolina Laporte

Discute-se na arte e ciência, sem conclusões definitivas, quanto das criações se deve a criatividade dos grandes inventores, e quanto parece ser estímulo de substâncias químicas nos resultados atingidos. É de amplo conhecimento que nomes reconhecidos como Freud ou Andy Warhol fizeram uso de entorpecentes e alucinógenos no auge de sua produtividade intelectual e jamais esconderam isso do público. Semelhante situação se encontra no mundo da fotografia. As drogas já serviram tanto de inspiração para os próprios artistas, quanto de objeto para exposições, em retratos da vida no submundo ou mesmo glamourizando os viciados.

Michael Williems, cidadão canadense nascido na Holanda e fotógrafo com exposição em mais de 30 países, dedicou toda uma obra para o cotidiano de pessoas que utilizavam drogas com frequência. Seu objetivo era desmistificar a beleza de quem é usuário, e para conseguir o resultado de sua exposição, Michael acompanhou durante meses uma boca de fumo em Toronto. Para ganhar a confiança dos fotografados, foi necessário paciência e muita conversa “viajada”: “ eu tinha que fingir que estava na onda deles, pra conseguir fazer contato na maior parte do tempo. Estavam todos tão alucinados que estar sóbrio era o que não fazia sentido naquele universo”.
Outras grandes fotografias de drogas foram responsáveis por marcar a vida de celebridades ou colocar o assunto na casa das tradicionais famílias em variadas décadas. Em 1970 a polêmica foto da prisão de Jane Fonda, apreendida no aeroporto por posse, circulou nos jornais dos Estados Unidos. Não tão longe, Kate Moss teve sua carreira de modelo ironicamente alavancada quando apareceu na capa do “Daily Mirror” em 2005, utilizando cocaína ao lado do então marido, Pete Dohrney.
“Não há como negar a importância de uma imagem”. Considerando a declaração do fotógrafo brasileiro Humberto Alízio, a secretaria nacional de políticas sobre drogas- SENAD
lançou um concurso neste ano, para que fotógrafos profissionais e amadores incitassem a prevenção no uso das drogas através de fotografias que tivesse algum significado de expressão para os jovens.
A tendência é que, grande parte dos possíveis usuários de amanhã reconheçam o perigo das substâncias hoje e encontrem formas de inspiração diferentes. “ A droga parece facilitar o processo criativo, mas no fundo é só você mesmo, se piorando até não conseguir produzir mais nada”. Humberto, ex- usuário de cocaína é também um dos inscritos do concurso e conclui:
“ Vou mostrar aquilo que vivi, e alertar que as drogas só funcionam com a arte quando servem de quadro. O artista deve ser uma tela limpa, sempre”.

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